Ayahuasca: Alucinógeno ou Bebida Transespiritual


Ayahuasca[1] (do quíchua aya, que significa ‘morto, defunto, espírito’, e waska, ‘cipó’, podendo ser traduzido como “cipó do morto” ou “cipó do espírito”[2] ), também conhecida como hoasca, daime, iagê[3] , santo-daime, vegetal e mariri[4] é uma bebida psicoativa produzida a partir da combinação da videira Banisteriopsis caapi com várias plantas, em particular aPsychotria viridis e a Diplopterys cabrerana.

A produção e o consumo da bebida são difundidos no mundo todo, em especial nos países ocidentais.[5] A ayahuasca é frequentemente associada a rituais de diferentes grupos sociais e religiões, além de fazer parte da medicina tradicional dos povos da Amazônia.

 

História do uso indígena

Era utilizada pelos incas ou, melhor, pelo complexo histórico cultural assim denominado. Segundo Darcy Ribeiro[8] , apesar das diferenciações linguísticas e das variantes culturais e nacionais, o bloco inteiro deve ser encarado como uma só macro-etnia: a neo-incaica. Numa avaliação que fez em 1960, publicada no livro “As Américas e a civilização”, encontrou-se uma população de 15,5 milhões de habitantes, na área montanhosa de 3 000 quilômetros de extensão que vai do Norte do Chile ao Sul da Colômbia, cobrindo os atuais territórios da Bolívia, Peru e Equador. Destes, 7,5 milhões são considerados indígenas, 3 milhões, brancos por autodefinição e 5 milhões de mestiços.

Os primeiros relatos do uso indígena de ayahuasca, no Ocidente, são dos missionários jesuítas Pablo Maroni em 1737 e Franz Xaver Veigl em 1768, que descreveram um cipó (liana) conhecido como ayahuasca, “usado para adivinhação, mistificação e enfeitiçamento”, enquanto estiveram no Rio Napo.[9] Estima-se entretanto que populações indígenas utilizem bebidas com estas plantas há aproximadamente cinco mil anos [10] [11] , oito mil anos [12] ou pelo menos 3.500 anos. [13]

A ayahuasca é utilizada tradicionalmente em países como Estados Unidos, Austrália, Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil e ainda por pelo menos 72 diferentes tribos indígenas da Amazônia.[14] [15] . Há estimativas do início da sua utilização e dispersão entre as tribos ameríndias entre 1500 e 2000 a.C., estando, entre os principais estudos dessa datação, os realizados pelo etnógrafo equatoriano Plutarco Naranjo, que sumariou a pouca informação disponível sobre a pré-história daayahuasca a partir de evidências arqueológicas abundantes em vasos de cerâmica, estatuetas antropomórficas e outros artefatos.[16]

Atualmente, já se observa um cuidado das autoridades sanitárias, governamentais e das próprias etnias que fazem uso da bebida em reconhecê-la como patrimônio cultural e de padronizar sua utilização, como é o caso da UMIYAC – Unión de Médicos Yageceros de la Amazonía Colombiana, que reúne representantes das etnias: inga, cofán, siona, kamsá, coreguaje, tatuyo e carijona.

 

Visão religiosa da ayahuasca

Antropólogos e adeptos religiosos frequentemente desaprovam o uso do termo “alucinógeno” para descrever a ayahuasca.[17] [18] [19] O termo enteógeno (grego en- = dentro/interno, -theo- = deus/divindade, -genos = gerador), ou “gerador da divindade interna” uma vez que seu uso se dá em contextos ritualísticos específicos. Contudo, a categorização científica da ayahuasca, enquanto substância, sem levar em consideração qualquer contexto de uso, é de um alucinógeno psicodélico. Para a farmacologia, do ponto de vista bioquímico, essa categorização não possui qualquer juízo de valor, e simplesmente denota a substância como um alterador da percepção e da cognição que age sobre os receptores de serotonina. Mas ressalte-se que, para compreender seus efeitos psíquicos ou subjetivos, não se pode ignorar as crenças e contexto social de uso. [20]

A controvérsia “enteógeno x alucinógeno” ocorre devido à conotação negativa que este último termo adquiriu em seu uso nos meios sociais e nos meios de comunicação. O etnofarmacologista Dennis McKenna, tendo em vista essa controvérsia, considera tanto o termo alucinógeno quanto o termo enteógeno como inadequados para descrever a ayahuasca, e diz preferir o termo “shamanic medicine“.[21]

Pesquisadores de medicina indígena, sistemas etnomédicos e adeptos religiosos consideram a possibilidade e/ou atribuem à substância propriedades curativas. Nas religiões tradicionais do Brasil e entre curandeiros “mestizos” da região andina, por exemplo, acredita-se que a ayahuasca é capaz de desintoxicar (purgar), reativar órgãos danificados e propiciar melhoras em quadros de dependência química, por exemplo. O Mestre Irineu, fundador do primeiro grupo neo-ayahuasqueiro, o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal – Alto Santo, dizia que o seu daime podia curar todas as doenças, exceto aquelas que vieram por sentença divina.[22] Entretanto, ele também dizia que “o Daime é para todos, mas nem todos são para o Daime[23] , e proibiu o proselitismo da bebida para os seus seguidores.

 

Legalidade

  • Após 18 anos de estudos, o Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas[36] do Brasil retirou, em 23 de novembro de 2006, a ayahuasca da lista de drogas alucinógenas definitivamente, fato que se fez possível graças a UDV (www.udv.org.br). A ayahuasca já havia sido excluída desta lista em caráter provisório desde setembro de 1987.[37] Em 26 de janeiro de 2010, o Governo Brasileiro dispôs, através de parecer do CONAD, a regulamentação de seu uso para fins religiosos, tendo vetado o plantio, o preparo e a ministração da bebida com o fim de auferir lucro, a prática do comércio, a exploração turística da bebida, o uso associado a substâncias psicoativas ilícitas, o uso fora de rituais religiosos, a atividade terapêutica privativa de profissão regulamentada por lei sem respaldo de pesquisas cientificas, o curandeirismo, a propaganda, e outras práticas que possam colocar em risco a saúde física e mental dos indivíduos. O cadastramento das entidades que utilizam a ayahuasca é facultativo.

 

Farmacologia

Cientificamente, a propriedade psicoativa da ayahuasca se deve à presença, nas folhas da chacrona, de uma substância denominada N,N-dimetiltriptamina (DMT), produzido naturalmente (em doses menores) no organismo humano. O DMT é metabolizado pelo organismo por meio da enzima monoamina oxidase (MAO). O caapi possui alcalóides capazes de inibir os efeitos da MAO e assim evitar a oxidação da molécula de DMT, que a tornaria inativa. Desse modo, o DMT fica ativo quando administrado por via oral e tem sua ação prolongada.[44] [45] [46]

Os harmanos são as betacarbolinas inibidoras de monoamina oxidase. A harmina e a harmalina têm preferência pela inibição da enzima MAO-A, e, em altas doses, podem passar a inibir a MAO-B, enquanto a tetraidroarmina (THH) é, além de um inibidor da monoamina oxidase, um inibidor da recaptação de serotonina de baixa intensidade, prolongando, assim, a meia-vida da molécula de DMT.[47] Estes compostos permitem que as moléculas de DMT não sejam metabolizadas, e assim atravessem a mucosa do estômago e do intestino para que, então atravessando a barreira hematoencefálica, possam chegar aos seus receptores correspondentes no cérebro.[48] Polimorfismos na enzima citocromo P450-2D6 podem afetar a capacidade de um indivíduo de metabolizar a harmina.[49]

A ayahuasca provoca alucinações entópticas (fosfenos), originadas entre o nervo óptico e o córtex cerebral, que se encaixam em padrões geométricos previsíveis, como mandalas, podendo também lembrar formas do mundo natural, como flores. Isto ocorre porque o agonismo de receptores 5-HT2A abaixa a pressão ocular, naturalmente produzindo fosfenos. Ela também provoca alucinações eidéticas, as chamadas visões, originadas no hipocampo e no lobo temporal mesial, associadas à alta neuromodelação de acetilcolina. Sob o efeito da ayahuasca, um ambiente escuro e o repouso corporal potencializam alucinações eidéticas porque auxiliam as betacarbolinas ( que são hipnóticos ) na indução do estado hipnagógico, aquele estado transitório entre a vigília e o sono, no qual aumenta a atividade colinérgica.

Conforme a dose se eleva, há maior tendência de ocorrerem alucinações erráticas, estas definidas como alterações na percepção do espaço, principalmente do contorno e tamanho de formas, e da passagem do tempo. O caapi e a chacrona potencializam-se reciprocamente. As betacarbolinas, por seus efeitos hipnóticos, induzem ondas cerebrais que favorecem as alucinações eidéticas, produzidas em maior potencial pela DMT, e as ondas induzidas pela DMT favorecem as alucinações entópicas, produzidas em maior potencial pelas betacarbolinas. Estas alucinações são bastante fluídas: uma alucinação eidética pode formar-se gradualmente a partir de elementos de uma entópica, e pode facilmente esvair-se, transformar-se em outra.[50] [51]

A jurema funciona através de método análogo à ayahuasca. Ela contém N,N-DMT e Juremamina, a qual atua como inibidor de MA

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ayahuasca

 

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